Sou fã de carteirinha de Jornada nas Estrela, tenho em casa todos os DVD´s das séries, e as acompanho desde seus primórdios. Fiquei entusiasmado quando Star Trek Discovery foi anunciada e esperei ansioso pela estreia. Mas devo confessar que a série, que está em exibição no Netflix, com episódios inéditos todas as segundas-feiras, não me convenceu, e em certo ponto até me decepcionou.
Achei interessante a mudança de foco, quando tiram do capitão o protagonismo da série, mas ao mesmo tempo me incomodam outras mudanças tanto no conceito, quanto nos princípios estabelecidos desde sempre em toda a franquia. Não estou me referindo, por exemplo, à 1ª diretriz (desobedecida logo de cara no primeiro episódio) que em todas as séries só é observada quando convêm ao roteiro. Isto é normal e já aconteceu inclusive na nova franquia estabelecida no cinema por JJ Abrams. O problema principal, na minha visão, é a mudança de princípios.
Alguém que conhece a franquia pode imaginar um primeiro oficial (ainda por cima meio Vulcana) se amotinando, agredindo seu capitão e desobedecendo as ordens? Pode imaginar o capitão Kirk, ou os capitães Picard (Nova Geração), Archer (Enterprise), Sisco (Deep Space Nine) ou a capitã Jenaway (Voyager) aprisionado e usando um ser inteligente e senciente para qualquer tipo de propósito? Acredito que não. Mas, o capitão Lorca da NCC-1301 Discovery é, e ainda por cima, com a conivência e ajuda da Michael Burnham (personagem principal da série), a primeira oficial amotinada em toda a história da Federação Unida de Planetas. Nesta época não sabemos por onde anda Spock ou quantos anos ele deve ter (como sabemos, os Vulcanos vivem muito mais que os humanos), mas tenho certeza que ele jamais tomaria qualquer atitude que fosse de encontro às normas da federação, contra as ordens do capitão Kirk, ou que pudesse colocar em risco a Enterprise e/ou sua tripulação.
Está claro que a ideia dos roteiristas é mostrar os conflitos que a dicotomia de Michael, nascida humana (sim, embora o nome deixe dúvidas, é um personagem feminino) e criada como vulcana traz ao personagem. Mas será que depois de viver a maior parte de sua vida em Vulcano, sendo instruída e educada por Sarek, pai de Spock e provavelmente convivendo com ele; mais os sete anos em que foi a “Número Um” da nave Shenzhou acompanhando a capitã Georgiou (esta sim, uma capitã digna dos outros) não foram suficientes para que ela absorvesse os princípios mais básicos e fundamentais da Frota Estelar, levando-a a se amotinar, e começar uma guerra que na primeira batalha destruiu dezenas de naves da federação e matou mais de oito mil pessoas? Mesmo diante de todas as justificativas oferecidas, (como diria meu velho e saudoso pai), explica, mas não justifica.
Outra questão, passa pelos Klingons (eternos inimigos da Federação). Achei muito lógico, coerente e diferente coloca-los falando sua língua original, mas podia ter ficado só nisto. Porque muda-los tanto fisicamente? Depois desta nova mudança, passei a considera-los a raça mais “mutante ” da galáxia. Na série original eram parecidos com os humanos. O que os diferenciava era a cor da pele, um pouco mais bronzeada, sobrancelhas levantadas, barba e bigode no estilo chinês. Na época dos filmes do cinema e nas outras séries, foram definidos com a aparência do tenente Worf – Michael Dorn, ator que o interpretava, foi o ator que mais participou de episódios nas várias séries de Jornada nas Estrelas – personagem recorrente tanto em Jornada nas Estrelas – Nova Geração, quanto em Deep Space Nine. Esta definição que achei, seria definitiva, foi também apresentada e preservada na série Enterprise do capitão Archer (onde tentaram dar uma explicação “meia-boca” para a primeira mudança de fisionomia) que é anterior a época do capitão Kirk. Mas e agora? Por que mudaram tudo novamente? Alguém já percebeu que de lado, a cabeça de alguns deles parece com a do Alien (chamem a Sigourney Weaver). Porque mudar a fisionomia da raça Klingon mais uma vez? O que diria Kahless sobre isto? Como se explica isto dentro do cânone?
Às vezes parece que estou assistindo uma série totalmente diferente daquelas com as quais me acostumei e já revi tantas vezes. Embora faça referência e homenageie a série original (preste atenção ao excelente vídeo de abertura) com feisers, comunicadores e tricorders, as naves são totalmente diferentes e com avanços e recursos tecnológicos inimagináveis tais como comunicação holográfica em 3D e dobra espacial instantânea (onde você pisca e está do outro lado da galáxia). As naves têm mais recursos que a Voyager da capitã Janeway que era a nave mais sofisticada já criada pela federação, muitos e muitos anos depois. Se tivesse estas tecnologias, ela não precisaria ter ficado tanto tempo perdida no quadrante delta, não é verdade?
Será que estou sendo muito crítico? Muito imediatista? Muito purista? Será que nos próximos capítulos a história vai evoluir para o que conhecemos, gostamos e esperamos? Se era para fazer uma nova série de Star Trek tão diferente, poderiam simplesmente chama-la Discovery, mudar o nome dos inimigos, criar uma outra coalisão de planetas e pronto. Gene Roddenberry (O Grande Pássaro da Galáxia) criador da série deve estar se revirando no túmulo.
Por Álvaro Machado